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Flamengo, campeão da Libertadores 2019 (Foto: Crédito: Raul Sifuentes / Freelancer)
O período sem jogos e treinos, acrescido da crise, tem levado clubes e patrocinadores a buscarem alternativas para compensar a perda financeira provocada pela crise do coronavírus. Afinal, contratos, firmados antes da pandemia, tinham a exibição da marca como motivação óbvia. No momento atual, porém, não há praticamente retorno do investimento realizado por causa da falta de visibilidade.
A tendência, inclusive, é de que o cenário de dificuldade se mantenha
mesmo quando for possível a retomada das competições. Como o calendário
estará apertado pelo período de paralisação dos torneios, da exposição
perdida durante a quarentena, a recuperação das marcas vai variar entre
50% e 75%, de acordo com José Colagrossi, diretor executivo do Ibope
Repucom."O volume de exposição se dará em um período menor", afirma. "Ao
comprimir vários campeonatos, vai ter tanto jogo que teremos um
problema de televisionamento com menos jogos na TV aberta do que em uma
temporada regular", acrescenta.
É uma argumentação, portanto, contrária a de alguns clubes, que apontam a
busca pela manutenção do calendário intacto, especialmente a disputa do
Brasileirão de pontos corridos e em 38 rodadas, para convencer
parceiros a manter o apoio inalterado. "Acreditamos que o que não está
sendo entregue agora, em termos de exposição, será recuperado lá na
frente, pois o calendário não deve ser reduzido", defende Beto Carvalho,
diretor executivo de marketing do Grêmio.
Independentemente de quem está com a razão nesse debate, o fato é que as
rescisões de contrato pelos patrocinadores têm sido raras, com o caso
mais conhecido sendo o da Azeite Royal, que logo no início da quarentena
rompeu seus acordos com Flamengo, Vasco, Botafogo, Fluminense e o
Maracanã. "Foi algo totalmente isolado, o bom senso tem imperado em um
momento inédito e de estresse", avalia Fábio Wolff, sócio-diretor da
agência de marketing Wolff Sports.
O mais comum vem sendo a suspensão de contratos pelo período em que
não há a entrega comercial da exposição da marca, em geral por dois
meses, o que provoca a prorrogação dos vínculos. Ou seja, o valor
acordado será recebido mais à frente, mas a receita imediata está
perdida. Clubes e empresas, seja por acordos de confidencialidade ou
para evitar a exposição do patrocinador, evitam revelar quais contratos
foram suspensos.
Sabe-se, porém, que o Consórcio Multimarcas
"congelou" seu acordo com os mineiros Atlético e Cruzeiro, em um cenário
que se repete com alguns patrocinadores de pequeno e médio porte, como a
Marjosports, que possui acordo com o Corinthians, e a Autoridade de
Turismo da Tailândia, que apoia as divisões de base do Santos. "Tem
renegociações, mas nenhum cancelamento. A empresa deixará de pagar, mas
fará depois", explica Pedro Melo, gerente de patrocínios do Atlético-MG.
O
momento também passa pela busca de soluções, em negociações com os
patrocinadores, com a oferta de novos ativos para a manutenção do
vínculo. "Nesta hora temos de entender o momento de cada parceiro
comercial, e muitas vezes, enxergar também novas oportunidades que
aparecem. O momento não é fácil, mas temos que caminhar juntos e as
parcerias podem se fortalecer", argumenta Anísio Ciscotto, gestor do
Cruzeiro responsável pelo departamento comercial. "Algumas dicas do
departamento estão sendo implementadas no negócio dos nossos
patrocinadores", acrescenta.
Além disso, uma suspensão precisa ser cuidadosa, para não estremecer a
relação de parceria. "Isso precisa ser feito da forma mais serena
possível. Qualquer movimento brusco ou errado, pode atrapalhar a
continuidade do patrocínio no futuro", comenta Wolff. Reforçar a relação
entre clube e patrocinador em um momento de crise também pode ser uma
importante ferramenta para fortalecer a identificação da marca com o
torcedor. "Acredito que os clubes que possuem uma relação verdadeira de
parceria com suas patrocinadoras vão em conjunto chegar ao melhor
formato econômico nesse momento, seja postergando os acordos, dando
algum desconto e compensando posteriormente, seja criando novas
entregas", diz Gustavo Herbetta, diretor de comunicação da Lmid, empresa
especializada em marketing esportivo.
O especialista, que foi
gerente de marketing do Corinthians, lembra que, mesmo em um momento de
crise, clubes, torcedores e patrocinadores têm interesses em comum.
Basta usar a criatividade para uni-los. "Todos os elementos envolvidos
nessa equação querem a mesma coisa: o clube quer continuar se
relacionando com os torcedores, os torcedores querem continuar
consumindo algum conteúdo de seus times de coração, e as marcas querem
fazer parte dessa relação, se aproximando cada vez mais desses
torcedores. O que mudou foi a forma. Pelo distanciamento social isso tem
que acontecer de forma virtual", defende.
O momento de crise também é visto como oportunidade de fortalecimento
para alguns patrocinadores. O São Paulo renovou dois contratos, até o
fim do ano, com o Banco Inter e a MRV, que fazem parte
do mesmo grupo empresarial. E a partir de agora, ambos passarão a exibir
suas marcas nos uniformes das equipes feminina de futebol e masculina
de basquete. "Humanizar a marca em momentos como esse gera um vínculo
sentimental mais duradouro. Mostramos que temos uma preocupação com o
clube. Eu não estou preocupado com o dinheiro, não sei quando volta o
campeonato, o contrato venceu em abril, poderíamos apenas não renovar,
mas queremos estar juntos", comenta Rodrigo Resende, diretor de
marketing e novos negócios da MRV.
Além
disso, durante a quarentena, a MRV assumiu a ativação de sua marca e
dos clubes ao organizar um campeonato de videogame envolvendo os quatro
times que patrocina - os outros são Atlético-MG, Flamengo e Fortaleza -,
seus torcedores e jogadores. Depois, produziu máscaras com os escudos
das equipes e as distribuiu. "Ao mesmo tempo em que fazemos uma ativação
da nossa marca, essas ações passaram duas mensagens: 'Fique em casa,
jogue videogame' e 'Se você tiver de sair, use máscara'", diz Rodrigo
Resende, diretor de marketing e novos negócios da MRV.
Atividades lideradas pelos patrocinadores também envolveram o BMG, que promoveu Live conjunta com ídolos de Atlético-MG, Corinthians e Vasco. Já o BS2 lançou uma playlist no Spotify dedicada ao Flamengo.
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