Itaú, Ambev e Magazine Luiza estão entre as empresas que se posicionaram de forma consistente e e ganharam reconhecimento do público na crise do coronavírus
Por Rony Rodrigues
Publicado em: 21/05/2020 às 11h33

Itaú: o banco é uma das empresas que vêm sendo lembradas pelo público (Itaú/Reprodução)
Quando a disseminação da covid-19
ganhou proporções de pandemia, as marcas precisaram navegar, sem
bússola aferida, por um território até então desconhecido: como se
posicionar quando a humanidade está em xeque? A resposta já começa a ser
dada pelo consumidor, que enfrenta hoje perdas afetivas, emocionais e
financeiras. As empresas mais lembradas durante a crise do coronavírus
não são aquelas que apenas colocaram a mão no bolso, por meio de
doações, porém afastadas do cerne do problema. Neste momento, as marcas
mais reconhecidas são aquelas que se mostraram humanas, manifestando o
máximo de empatia por seus públicos.
A doação ainda parece algo distante ou é vista com certa desconfiança
pelos consumidores – para garantir a eficiência, ela precisa ser
acompanhada de transparência, apontando o destino dos recursos, se há
auditoria e quais são as entidades envolvidas no processo. Com uma
evidente descrença nas instituições, inclusive nas marcas, o público tem
confirmado sua preferência por “empresas ação”, aquelas que demonstram
de maneira ágil suas habilidades para se envolver em questões sociais.
Num momento em que agir é algo importante na relação entre pessoas e
marcas, outros dois pontos fundamentais são a humanidade nas
interações com o público e a verdade das ações. No Brasil, Itaú, Ambev e Magazine Luiza
estão entre as empresas que conseguiram se posicionar de forma
consistente e hoje são apontadas em pesquisas como as mais lembradas
durante a pandemia.
Não há fórmulas para definir o que é (ou deveria ser) a essência de todos nós, mas há atitudes que tornam marcas mais humanas.
1) Tom de voz e eloquência: pela voz, as marcas
expressam seus valores e personalidades, seus sentimentos e atitudes.
Num momento delicado como o que estamos passando, toda empresa precisa
ouvir e dialogar com seus consumidores, ter sensibilidade em seu
discurso, se colocar no lugar do outro. E a eloquência é fundamental
para esta conexão mais humana. A empresária Luiza Trajano, do Magazine
Luiza, se tornou uma das principais vozes dos debates no País durante a
pandemia, abordando da crise econômica à violência doméstica contra a
mulher. Se posicionou com precisão e ternura, dando humanidade à marca e
conectando todos os pontos de seus diferentes públicos.
2) Altruísmo com transparência: o que esperar da
lista de grandes fortunas mundiais e de gigantes do sistema financeiro
durante uma pandemia de proporções devastadoras? A resposta de Jack
Dorsey, cofundador do Twitter, foi doar US$ 1 bilhão (28% de seu
patrimônio) para esforços globais contra o coronavírus. Enquanto isso, o
Itaú, maior banco brasileiro, fez uma histórica doação de R$ 1 bilhão
para a causa. A instituição financeira também aplicou sua eficiência em
negócios e gestão, já percebida em suas fundações, para formar a
iniciativa Todos Pela Saúde, um grupo liderado pelo médico Paulo
Chapchap, diretor-geral do Hospital Sírio Libanês, e que tem também a
participação do médico, escritor e cientista Drauzio Varella, entre
outros profissionais da área. Os recursos aportados serão administrados
pela equipe de especialistas, responsável por definir as ações
financiadas e assegurar que a verba seja destinada às finalidades
certas.
3) Expertise a serviço do social: ser altruísta
também é levar o problema para o centro de seus negócios. Montadoras
como GM, Ford e Fiat estão aplicando agora seu conhecimento técnico no
conserto de respiradores, essenciais para o tratamento dos casos mais
graves de Covid-19. Enquanto isso, a Ambev fez valer seu posicionamento
“Além dos Rótulos”. Depois de sair na frente com a produção de álcool em
gel no Brasil, doou R$ 10 milhões para a ampliação de um hospital
público em São Paulo e emprestou seu time de gestão de projetos para
executar a obra em tempo recorde. A operadora Vivo também se apresentou
como agente fundamental no controle do isolamento social no Estado de
São Paulo: foi a primeira a firmar um acordo com o Governo para fornecer
dados sobre o deslocamento populacional de maneira anônima e agregada –
ou seja, respeitando a privacidade dos seus usuários.
4) Abraçar as comunidades: atuar em prol das
comunidades ao redor do negócio é uma prova de empatia com aqueles que
estão mais próximos. Nesta linha, uma ação que merece destaque, por sua
sensibilidade: a plataforma Apoie Um Restaurante, da Stella Artois, que
abraçou os restaurantes e sensibilizou seus frequentadores a ajudarem um
dos setores que mais sofrem neste momento. A Ypê, empresa de produtos
de limpeza e higiene, foi além e pensou nos mais vulneráveis. Fez uma
significativa doação de sabão em barra para comunidades carentes de São
Paulo e do Rio de Janeiro – só para o Complexo do Alemão, no RJ,
destinou 25 toneladas do produto, o equivalente a mais de 125 mil
unidades. A Olympikus, marca de tênis mais vendida no Brasil, criou o
“Corre Junto”, uma academia digital, que possibilita a geração de renda
para profissionais do esporte e consumidores. Ao se transformarem em
afiliados, eles ganham uma comissão da empresa a cada par de tênis
vendido.
5) Verdade e vulnerabilidade: num período delicado
para todos, se mostrar vulnerável é refletir um sentimento que também
está sendo vivenciado por consumidores e colaboradores. Cofundador e CEO
do Airbnb, Brian Chesky escreveu uma carta em tom muito honesto aos
seus funcionários, explicando os motivos da redução de 25% dos times,
num momento em que o setor de viagens se encontra sem perspectivas.
Entre outras ações, a empresa dará suporte aos que foram demitidos, para
que se recoloquem no mercado. A mensagem de Chesky (houve também um
vídeo) foi bem recebida não só por seus funcionários, mas também por
toda a comunidade de hosts e clientes da empresa, além de ser uma das
atitudes de marca mais comentadas durante a pandemia.
6) Integralidade: o Magazine Luiza vem fazendo um
trabalho integral desde o início da pandemia. Decidiu fechar suas lojas
antes mesmo de os decretos estaduais entrarem em vigor, doou R$ 10
milhões para o tratamento de doentes do coronavírus e lançou o programa
Parceiro Magalu – uma plataforma onde outros varejistas físicos,
pequenos e médios, podem vender seus produtos. Além de ter Luiza dando
um tom mais humano a tudo, a empresa tem Fred Trajano, seu filho, na
linha de frente da área digital – inclusive incentivando os pequenos e
médios empreendedores a se digitalizarem também para enfrentar a
pandemia. Em um recém-divulgado ranking dos líderes de negócio com
melhor reputação no Brasil, Luiza aparece em primeiro lugar e Fred, em
décimo.
7) Descompressão: também é necessário levar um pouco
de alívio, informação e alegria para tentar suavizar um momento tão
difícil – e muitas marcas convidaram o consumidor a descontrair durante a
quarentena. Adidas e Nike disponibilizaram treinos por apps e redes
sociais, outras tantas marcas organizaram lives com músicos – ações que,
além de entreter, arrecadaram fundos para cestas básicas. Destaque para
as lives de Marília Mendonça, que tiveram patrocínio de marcas como
Stone e Havaianas. Mostraram a cantora em casa, de maneira totalmente
informal, inclusive de chinelo – até agora, sua audiência é recorde
mundial.
Mais que parecer, é preciso de fato atuar de forma humana – e, por
isso, um propósito bem feito e definido nunca foi tão necessário a uma
marca. Ele possibilita que empresas reajam com mais agilidade e
naturalidade neste momento específico e serve como uma espécie de lente
mais humana no mundo corporativo. Ter uma força organizadora pode fazer
uma enorme diferença em meio ao caos – um recurso facilitador na hora de
colocar ideias em prática, para que sejam assimiladas facilmente pelos
seus públicos. A relação marca/consumidor pede hoje ação, emoção e
reação – empresas ativas e responsáveis, que entenderam a gravidade da
situação. Não basta doar: este é um momento de mão no bolso, mas também
na massa e no coração.
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