Bia do Bradesco, Lia da Leroy Merlin, Virtus da VW: em estágios diferentes, sistemas de inteligência artificial passam a ser incorporados à identidade das empresas
Luiz Gustavo Pacete
20 de agosto de 2018 - 8h51
20 de agosto de 2018 - 8h51
Há alguns
dias, o Bradesco lançou uma campanha para apresentar ao público a Bia,
seu sistema de inteligência artificial. Ela não nasceu ontem. Foi criada
em 2014 e, desde então, vem sendo aprimorada. Ou, literalmente,
ensinada. Apesar de ainda não ter voz, a Bia deve sair falando em breve.
Nos Estados Unidos, a Erica, uma colega da Bia que trabalha para o Bank
of America, já tem voz e foi incorporada ao perfil de marca. Mas qual é
o grau de complexidade que uma voz adiciona ao branding?

A Erica, do Bank of America, desempenha as mesmas funções da Bia, do Bradesco, e já possui voz
(Crédito: Reprodução)
(Crédito: Reprodução)
Utilizar diversos sentidos na construção
de marca já é algo conhecido dos estrategistas. Geralmente, a assinatura
sonora, que é composta por música, voz e outros elementos, é algo
inerente à estrutura de grandes marcas. No entanto, a ascensão da voice
interaction – Alexa, Siri e outras – traz a materialização da
personalidade de marca em uma dinâmica mais complexa.
“Deixamos de falar em voz de marca em
sentido abstrato e passamos a viver uma experiência mais concreta – é a
voz em sentido literal. Em termos de estratégia, compreende um
planejamento mais abrangente e aprofundado, que adiciona a níveis
básicos, como gramática e vocabulário, camadas mais complexas
relacionadas à construção de uma personalidade viva, do timbre vocálico e
do gênero ao humor e às emoções de forma geral”, diz Mateus Potumati,
líder criativo da FutureBrand São Paulo.
Um dos pontos levantados por Mateus é que,
como se trata de um algoritmo é uma entidade viva, que se adapta e
evolui à medida que interage com o usuário. “A construção da persona
pode direcionar a identidade verbal como um todo, incluindo a voz. A
Siri, por exemplo, não é exatamente a voz da Apple, mas funciona como um
guia para o universo mais amplo da marca. Ela é encarregada de fornecer
o tom inicial de relacionamento, que impacta na forma como as pessoas
percebem a marca nas jornadas seguintes. Ao mesmo tempo, sintetiza,
reinterpreta o brand equity construído pela marca em décadas de
atividade”, afirma Mateus.
Segundo Leonardo Senra, sócio e
diretor-executivo da Ana Couto, o tom de voz de uma marca é um só.
“Assim como a personalidade da marca deve ser uma só. Se partirmos do
principio que marcas são como pessoas, possuem uma essência que as
tornam únicas e um jeito de ser e pensar, então o desafio aqui é o da
consistência. Assim como podemos nos comportar no digital de um jeito
mais informal (o nosso lado B), para as marcas, a lógica deve ser a
mesma, Cada assistente de AI deve ser um desdobramento da personalidade
daquela marca. Partindo do mesmo arquétipo”, afirma.
“Em teoria, a sintetização de voz é um
problema relativamente simples. A maior dificuldade no Brasil está
relacionada a regionalização, vícios de linguagem, gírias e termos
técnicos. Se compararmos um gaúcho com um baiano iremos perceber
diferentes maneiras de se expressar, diferentes palavras, frases e isso
tudo traz uma certa complexidade quando a máquina faz o processo de
interpretação da linguagem natural”, diz Diego Figueiredo, da Nexo,
empresa especializada em inteligencia artificial.
Diante dessa discussão, uma dúvida: Por que Siri, Alexa, Cortana e a
maioria dos assistentes possuem vozes femininas? E até o Watson, sistema
de programação cognitiva da IBM, virou Isabela em português? “A questão
do gênero da voz para assistentes virtuais é importante, principalmente
para as grandes marcas que buscam desenvolver tecnologia ‘falante’ para
interagir com seus consumidores.
Pesquisas mostram que a voz feminina é
percebida como capaz de nos ajudar a resolver nossos próprios
problemas, enquanto a masculina, muitas vezes, é vista como figura de
autoridade que nos dá as respostas. Outra curiosidade: você já parou
para pensar que a primeira voz que todos nós ouvimos na vida é feminina?
Ainda no útero, a gente escuta e responde aos estímulos da voz da mãe,
que é associada à nutrição e segurança”, explica Simone Kliass, locutora
publicitária e pesquisadora de voz para novas tecnologias.
“Voz, o próximo passo da Bia”

Luca Cavalcanti
Em entrevista, Luca Cavalcanti, diretor-executivo do Bradesco, fala sobre o presente e futuro da Bia:
Meio & Mensagem – Quando ela terá voz?
Luca Cavalcanti – Esse é um dos próximos passos da Bia. Internamente já existe uma voz para a Bia. Está no roadmap de desenvolvimento da plataforma e deve ser ativada em breve.
Luca Cavalcanti – Esse é um dos próximos passos da Bia. Internamente já existe uma voz para a Bia. Está no roadmap de desenvolvimento da plataforma e deve ser ativada em breve.
M&M- Qual o desafio de criar uma identidade para um sistema de AI?
Cavalcanti – Estamos justamente neste momento de criar a identidade da Bia. Hoje, já passam de 37 milhões de interações com mais de 7 milhões de usuários, aceitando variações regionais, gírias e abreviações. E esse é o nosso grande desafio: o Brasil é um país de dimensões continentais, com diferenças culturais e de sotaques. A Bia tem que representar o Bradesco para todas essas pessoas e gerar identificação e empatia.
Cavalcanti – Estamos justamente neste momento de criar a identidade da Bia. Hoje, já passam de 37 milhões de interações com mais de 7 milhões de usuários, aceitando variações regionais, gírias e abreviações. E esse é o nosso grande desafio: o Brasil é um país de dimensões continentais, com diferenças culturais e de sotaques. A Bia tem que representar o Bradesco para todas essas pessoas e gerar identificação e empatia.
M&M – Quais os planos do
Bradesco para a Bia nos próximos anos? Como vocês pretendem evoluir as
funções dela e os serviço que ela pode oferecer?
Cavalcanti – Temos um amplo roadmap para tirar o melhor proveito da inteligência artificial. A Bia interage com os usuários por meio do app Bradesco Celular. Originalmente, ela conseguia responder perguntas sobre 11 produtos e serviços e hoje já é capaz de responder sobre mais de 70. Nosso plano é ter um crescimento horizontal, levando a Bia para outras plataformas além do app, e também vertical, sempre ampliando sua base de conhecimento.
Cavalcanti – Temos um amplo roadmap para tirar o melhor proveito da inteligência artificial. A Bia interage com os usuários por meio do app Bradesco Celular. Originalmente, ela conseguia responder perguntas sobre 11 produtos e serviços e hoje já é capaz de responder sobre mais de 70. Nosso plano é ter um crescimento horizontal, levando a Bia para outras plataformas além do app, e também vertical, sempre ampliando sua base de conhecimento.
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